ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO


“The race to save biodiversity is being lost, and it is being lost because the factors contributing to its degradation are more complex and powerful than those forces working to protect it.” 
(Wood et al, in The Root Causes of Biodiversity Loss)

O reconhecimento da necessidade de uma ação internacional concertada, para fazer frente ao grave problema da redução da biodiversidade, levou à criação da CBD[1]. Esta preconizou a conservação da biodiversidade e a utilização sustentável dos seus componentes; e ressaltou, a necessidade da repartição justa e equitativa dos benefícios derivados dos usos diversos dos recursos genéticos. Para atingir os objetivos enunciados, a CDB, aconselhou a existência de estratégias internacionais e nacionais, como exemplo neste âmbito refere-se, o estabelecimento de áreas (protegidas ou não) onde tenham de ser tomadas medidas especiais para a conservação da biodiversidade. (GPP, 2013)

Pela CBD foram criados a COP (Conferência das Partes) e um órgão subsidiário, com o objetivo de manter sob observação a sua aplicação (caso da COP), e de fornecer e meios tecnológicos oportunos para a implementação da presente Convenção (órgão subsidiário). Na penúltima COP (10ª), realizada no Japão a 27 de Outubro de 2010, é de destacar a aprovação de um mecanismo de partilha de benefícios genéticos (ABS) e o estabelecimento de objetivos de conservação da biodiversidade, até ao ano de 2020. (GPP, 2013)

Na União Europeia, têm-se verificado várias ações de implementação de iniciativas e instrumentos legais para a proteção da biodiversidade, as quais têm vindo a permitir proteger áreas terrestres e marinhas consideráveis bem como salvar espécies e habitats. Contudo, esta implementação é muitas vezes difícil, demorada e pouco eficaz, não sendo ainda capaz de parar o declínio geral da diversidade biológica que tem ocorrido. Além dos instrumentos diretamente relacionados com a proteção da biodiversidade, a União Europeia estabeleceu ainda como fundamental que a proteção do ambiente seja integrada na definição e execução de todas as políticas e atividades setoriais dos Estados-Membros.

No espaço da União Europeia, a política de conservação da biodiversidade e recursos naturais assenta na Rede Natura 2000. A Rede Natura 2000 consiste numa vasta rede de locais protegidos no espaço da União Europeia, relativos aos habitats naturais e às espécies animais e vegetais selvagens raras, ameaçadas ou vulneráveis. Esta rede foi criada com o intuito de salvaguardar a biodiversidade nestes territórios. Dentro do território abrangido pela Rede Natura 2000, as atividades humanas devem visar uma gestão sustentável do ponto de vista ambiental, económica e social.

A Rede Natura resulta da implementação de duas diretivas comunitárias distintas:

Diretiva Aves - Diretiva Comunitária 79/409/CEE, de 2 de abril, esta é relativa à conservação das aves selvagens;

 • Diretiva Habitats - Diretiva Comunitária 92/43/CEE, de 21 de maio, esta é relativa à proteção dos habitats e da fauna e flora selvagens.

Ambas as diretivas foram transpostas para o direito nacional através do Decreto-Lei nº 140/99, de 24 de abril (republicado pelo Decreto-Lei nº 49/2005, de 24 de fevereiro), pretendendo-se otimizar o cumprimento das obrigações do Estado Português relativamente à criação da Rede Natura 2000.

A Rede Natura 2000 é composta por:

Zonas de Proteção Especial (ZPE) - estabelecidas ao abrigo da Diretiva Aves, que se destinam essencialmente a garantir a conservação das espécies de aves, e seus habitats, listadas no seu Anexo I, e das espécies de aves migratórias não referidas no Anexo I e cuja ocorrência seja regular;
Zonas Especiais de Conservação (ZEC) - criadas ao abrigo da Diretiva Habitats, com o objetivo expresso de "contribuir para assegurar a Biodiversidade, através da conservação dos habitats naturais (Anexo I) e dos habitats de espécies da flora e da fauna selvagens (Anexo II), considerados ameaçados no espaço da União Europeia".” (ICNF, 2013a) A classificação de ZEC depende de prévia aprovação da lista nacional de Sítios de Importância Comunitária (SIC), pelos órgãos competentes da União Europeia (Decreto-Lei nº 49/2005).

A estratégia portuguesa na área da biodiversidade assenta num documento fundamental que é a “Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e da Biodiversidade” (ENCNB), publicada na RCM nº 152/2001, “resulta da necessidade de cumprimento da obrigação jurídica internacionalmente assumida por Portugal no contexto da Convenção sobre a Diversidade Biológica e na Estratégia da União Europeia em matéria de Diversidade Biológica e Directivas Aves e Habitats” (GPP, 2013). A ENCNB, tem grande importância não só para orientação da própria política de conservação da natureza, mas ainda para as políticas setoriais relevantes, uma vez que é fundamental a integração das questões da conservação da natureza e da utilização sustentável dos recursos biológicos nas diferentes políticas setoriais (agricultura, economia, ordenamento do território, etc). E assumiu três objetivos gerais: “conservar a Natureza e a diversidade biológica, incluindo os elementos notáveis da geologia, geomorfologia e paleontologia; promover a utilização sustentável dos recursos biológicos; contribuir para a prossecução dos objectivos visados pelos processos de cooperação internacional na área da conservação da Natureza em que Portugal está envolvido, em especial os objectivos definidos na Convenção sobre a Diversidade Biológica” (RCM, 2001)

Algumas críticas me parecem que podem ser apontadas à ENCNB, mas primeiramente se não formos capazes de ter uma “radiografia” da nossa biodiversidade, então seremos incapazes de definir prioridades para a sua conservação (este é um problema imputável ao período que antecede a Estratégia). Uma lacuna da Estratégia é o caráter estático da rede de conservação, parece que se optou por ignorar as inovações tecnológicas que auxiliam processos dinâmicos de seleção e reavaliação de áreas de conservação (um dos exemplos é a ausência de qualquer referência à “análise de lacunas”). Outra lacuna consiste na ausência de qualquer hierarquização explícita de prioridades. Verificou-se uma inexistente participação de agentes sociais e económicos na preparação da Estratégia (contrariamente por ex. à Estratégia Espanhola que foi amplamente participada). A Estratégia continua a ignorar o conflito latente entre o processo de elaboração de políticas de conservação e a sua execução prática por aqueles que fazem a gestão do território.

Para finalizar refiro que, em reciprocidade com o relevo atribuído na Convenção da Biodiversidade à conservação in situ, reconhecendo que a proteção das espécies passa necessariamente pela proteção dos habitats, verifica-se em Portugal uma Rede Nacional de Áreas Protegidas que integra (no âmbito nacional): 1 Parque Nacional; 13 Parques Naturais; 9 Reservas Naturais; 2 Paisagens Protegidas; 7 Monumentos Naturais. (ICNF, 2013b). Deixo o alerta que todos nós podemos tomar pequenos gestos individuais que contribuem para a promoção da biodiversidade.

Deixo-vos ainda uma curta entrevista, onde alguns breves aspetos das estratégias de conservação da biodiversidade são abordados: Entrevista RTP



Referências bibliográficas
Azeiteiro, U.M. (2011) "Conservação da Biodiversidade",UAb
CBD (2013). Convenção sobre a Diversidade Biológica. Acedido a 12.04.2013, em  http://www.cbd.int/convention/default.shtml
CE (2010). Comissão Europeia. Ficha temática Biodiversidade. Centro de Informação Europeia Jacques Delors. Acedido a 11.04.2013, em https://infoeuropa.eurocid.pt/files/database/000048001-000049000/000048420.pdf
ICNF (2013a). Portal do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas. Acedido a 11.04.2013, em http://portal.icn.pt/NR/rdonlyres/2CC68793-3153-4A41-B38D-F16FB9ABC567/0/AP_RNAP_11Jul2012.pdf
ICNF (2013b). Portal do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas. Acedido a 11.04.2013, em http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/rn2000
GPP (2013). Portal do Gabinete de Planeamento e Políticas. Acedido a 12.04.2013, em http://www.gpp.pt/ambiente/biodiversidade/Biodiversidade.pdf
MA (2005). Millennium Ecosystem Assessment. What response options can conserve biodiversity and promote , pp. 69-76, inEcosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, D.C.
Palma, Francisco (coord.) (2008).  Ganhar com a Biodiversidade. Actual Editora, Lisboa.
RCM (2001). Resolução do Conselho de Ministros n.º 152/2001. Acedida a 21.04.2013 em http://dre.pt/pdf1s/2001/10/236B00/64256451.pdf 



[1] É o primeiro acordo internacional que abrange todos os aspetos da diversidade biológica: genomas e genes, espécies e comunidades, habitats e ecossistemas

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